Ensino Médio
Justificativa
A Prática de leitura aqui proposta busca fazer convergir em uma sequência de atividades coletivas dois eixos de trabalho: a temática da violência e das possibilidades de resolução de conflitos no cotidiano e o trabalho com diferentes manifestações artísticas (que envolvem diferentes linguagens e a multimodalidade) como foco de análise e reflexão sobre a questão.
No que se refere à questão da violência, há que se destacar a amplitude deste debate e, portanto, a necessidade de fazermos desde já um recorte acerca das situações a serem focalizadas nesta Prática de leitura.
Para tanto, recorreremos de forma bastante breve a uma perspectiva de compreensão da violência enquanto fenômeno social e histórico, portanto produto e produtor das relações sociais2.
Dessa forma, compreender e definir o que são atos violentos requer olhar, além da resultante do ato em si, para o contexto em que ocorre e para o percurso histórico que levou à compreensão daquela violência enquanto tal. Por exemplo, o trabalho infantil, na época da Revolução Industrial, não era considerado situação de violência contra a criança tal como nos dias de hoje.
De forma geral, se tomarmos basicamente o senso comum como parâmetro, teremos uma ideia de que é violenta a situação em que há agressão física do outro, com intenção de causar dor ou sofrimento.
Mas, e se não há agressão física? Se a ação intencional de um, causa dor e sofrimento mental ao outro? São situações de agressões verbais, humilhações, zombarias, discriminações, dentre outras, que, não incorrem necessariamente em agressões ao corpo, mas que constituem microviolências e ações discriminatórias (Abramovay, Cunha e Calaf, 2009).
São para essas situações cotidianas que pretendemos jogar luz com as atividades aqui propostas. Situações que, muitas vezes, passam despercebidas ou são tratadas com indiferença por aqueles que a presenciam, o que dificulta sobremaneira a abordagem dessas situações na direção de uma resolução.
A pesquisa de Abramovay et alli (2009) destaca a variabilidade de situações de violência entre os diferentes participantes da comunidade escolar, no Distrito Federal. Apenas para ilustrar a forte presença de atitudes violentas no espaço escolar, os dados da pesquisa mostram que 74,9% dos alunos e 31,3% reconhecem tê‐la praticado.
O xingamento ainda, se focarmos o teor, geralmente, refere‐se a alguma característica pessoal que é alvo de discriminação ou de estereótipos. Não são poucos os xingamentos que se referem a negros, mulheres, homossexuais, nordestinos, pessoas mais gordas ou magras etc.
Fica, então, evidente a importância de trazer o tema para dentro da sala de aula, tendo em vista o papel educativo dessa instituição no que se refere à formação dos cidadãos responsáveis pela construção/consolidação de uma sociedade democrática.
A escola, enquanto espaço de convivência de pessoas de diversos grupos sociais, é espaço legítimo e privilegiado para o aprendizado de uma convivência menos violenta que, para tanto, depende da construção da prática do diálogo e da resolução dos conflitos de formas não agressivas.
Ressaltamos, ainda, que uma sociedade plural em ideias, formas de agir e de se relacionar, tem em sua própria constituição o conflito e a contradição. Esses são elementos que dinamizam a rede e a organização social, portanto, tem valor fundamental em uma sociedade democrática. As formas de lidar com os conflitos é que, se não pautadas no diálogo e no respeito à diferença, podem se tornar violentas.
O trabalho aqui proposto tem, assim, dentre os seus objetivos, propiciar espaços de reflexão e de sensibilização de alunos e professores para a questão das violências cotidianas, sendo desejável a proposição de caminhos concretos de estratégias de intervenção na sala de aula e, quiçá, na escola por parte da turma.
Para possibilitar a reflexão acerca da temática proposta, buscamos nas manifestações artístico‐culturais produções que pudessem levar os alunos para outros contextos, para olhar outras experiências, de forma a ampliar a reflexão do seu próprio cotidiano.
Essa ampliação, aqui proposta por meio do cinema, da música e da poesia, busca revelar a diversidade social e cultural, o que, por sua vez, acaba nos colocando em um lugar de estranhamento‐reconhecimento de si e do outro.
Nessa direção, buscamos nas palavras de Bazílio e Kramer3 a importância “humana” da experiência cultural:
“Pensar na experiência de cultura como alternativa significa evocar práticas com livros, histórias, filmes, peças, contos, poemas, imagens, cenas, roteiros, pinturas, fotos ou músicas, compartilhando sentimentos e reflexões, plantando no ouvinte a narrativa, criando um solo comum de diálogo, uma comunidade, uma coletividade. O que torna uma situação uma experiência é entrar nessa corrente onde se compartilha, troca, aprende, brinca, chora e ri. Experiências de produção cultural que têm dimensão artística são importantes porque são capazes de inquietar, de provocar a reflexão para além do momento em que acontecem” (p. 102).
É nessa direção que serão propostas as atividades, buscando abrir espaços de reflexão, diálogo e comprometimento de todos na construção de relações mais solidárias e menos opressoras.
No que se refere às práticas de leitura, podemos destacar, a partir de Rojo, algumas capacidades que deverão ser mais contempladas quando da realização das atividades, a saber:
Das capacidades de compreensão:
‐ Generalização: especialmente, ao assistir ao filme, os alunos serão levados para um contexto sócio‐histórico específico, mas que apresenta proximidades com outros contextos. Há informações, ideias que deverão ser relacionadas com situações mais próximas de vida dos alunos, portanto serão passíveis de generalizações e, certamente, ponto de apoio nas análises junto à turma.
‐ Produção de inferências globais: assim como todo texto, um filme ou uma música trazem implícitos que precisam ser compreendidos para que se construam sentidos mais apropriados por parte do sujeito.
Das capacidades de apreciação e réplica:
‐ Recuperação do contexto de produção do texto: para construir uma interpretação acerca das produções culturais, os alunos precisam responder a perguntas do tipo: quem é o autor dessa história/música/poesia? Que posição ocupa? Que ideologias assume e divulga? Para quem fala? Contra o que fala? O que propõe? Essas e outras perguntas possibilitam uma reflexão mais contextualizada e, portanto, dialogada (e crítica) do sujeito com as obras.
‐ Percepção de relações de intertextualidade e de interdiscursividade: propõe‐se aqui relacionar as produções trabalhadas com outras obras e textos que possam ampliar, questionar, enfim, constituir uma rede de (o)posições acerca de uma temática, garantindo um verdadeiro diálogo em torno de questões propostas.
‐ Percepção de outras linguagens: a própria proposição de trabalho com filme, música e poesia possibilita a percepção da pluralidade de linguagens em torno das práticas letradas.
‐ Elaboração de apreciações estéticas e/ou afetivas: a produção cultural, conforme vimos destacando, abre espaço para a construção dessas capacidades, já que, por excelência, busca acessar sentimentos e percepções do outro em torno de uma experiência de vida apresentada no cinema, no livro, na música...
‐ Elaboração de apreciações relativas a valores éticos e/ou políticos: a temática aqui abordada (e, esperamos também, que a forma de abordagem proposta) poderá abrir espaço para uma série de discussões em torno de concordâncias, discordâncias, críticas etc.
Importa, por fim, destacar que a finalidade de uma
Objetivos
Espera‐se que por meio desta atividade os alunos:
• dialoguem e construam espaços de reflexão acerca de temas importantes para a experiência coletiva;
•coloquem‐se criticamente, reconhecendo diferentes posições ideológicas e formas de lidar com a diferença;
•experimentem, por meio de manifestações artístico‐culturais, sentimentos e percepções em relação a si e aos outros;
•desenvolvam capacidades de compreensão, apreciação e réplica, a partir de diferentes textos e linguagens.
Organização das aulas
Esta sequência de atividades propõe a organização do trabalho em 6 aulas (mais uma opcional), sendo desejável que a segunda, na qual deverá ser veiculado o filme Escritores da liberdade, seja uma “dobradinha”. Vale ressaltar que, o número de aulas está diretamente condicionado ao seu ritmo de trabalho com a turma. Portanto, avalie quais aulas precisarão ser condensadas ou ampliadas.
No decorrer deste trabalho, haverá vários momentos em que serão propostas discussões orais (sobre o filme, a música, o artigo). Procure organizar junto com a turma estratégias que facilitem o diálogo em sala de aula. Sugerimos, para esses momentos, organizar a sala de aula, se for possível, em um círculo, dando ao espaço um desenho de roda de conversa.
Quadro síntese das aulas
Em função do tempo disponível e das características do seu grupo/classe, você pode deixar de dar alguma aula ou estender os temas para mais de uma aula.
ecursos necessários
R
Providências Necessárias
‐ Reservar aparelhos para a exibição do vídeo e para a audição da canção.
‐ Imprimir e xerocopiar os textos e atividades a serem utilizados em sala de aula para os alunos.
A
Aula 1
Nesta aula serão lidos poemas de autores consagrados (Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade), abordando a temática dos diferentes pontos de vista.
Momento 1: Divida a classe em grupos de 4 a 5 alunos. Proponha que leiam os poemas e conversem sobre as questões propostas no Anexo 1 – Discutindo sobre os pontos de vista: na poesia e na vida. Para tanto, providencie a impressão do Anexo 1 e dos poemas:
• “Dos pontos de vista”, de Mário Quintana, disponível em: http://www.pensador.info/p/acaso/2/
•“Verdade”, Carlos Drummond de Andrade, disponível em: http://www.memoriaviva.com.br/drummond/poema072.htm
A ideia nesta atividade é destacar a presença do assunto na arte e na vida, já que as relações entre as pessoas são marcadas por pontos de vista concordantes (que acabam por propiciar identificações entre as pessoas, como nos diferentes grupos sociais) e discordantes (que, se não forem aceitos e respeitados, podem gerar situações de conflito e, no limite, de agressões).
Em Mário Quintana, duas personagens diferentes são criadas, a mosca e a aranha, para apresentar dois pontos de vista em relação a uma mesma situação. O poema de Drummond segue na mesma direção, indicando a miopia de cada um como sendo a possibilidade de opção por determinada opinião.
Deixe para abordar os movimentos de identificação e contraposição de opiniões após a leitura, já que é um possível recorte dos diferentes pontos de vista.
Você pode sugerir ainda que alguns alunos, após um primeiro contato com o poema, se preparem para declamá‐lo, procurando interpretá‐lo, modificando inclusive a voz ao se referir às diferentes vozes/posições (questão 7). A possibilidade de contrastar diferentes leituras de um mesmo aluno ou alunos diferentes, relacionando elementos suprassegmentais com aspectos do significado também permite a exploração de um importante aspecto da dimensão estética.
Peça aos alunos que registrem os principais pontos da discussão que decorrerem das questões propostas na atividade. Para melhor organização, sugira aos alunos que elejam um responsável pelo registro, que também apresentará para a turma as conclusões do grupo no Momento 2 da aula.
Momento 2: Agora, com toda a turma, peça para que os redatores dos grupos relatem os principais aspectos destacados na discussão dos pequenos grupos. A ideia é que, no decorrer desta aula, já se enfatize que o não respeito aos diferentes modos de pensar, de agir, de ser e viver pode gerar situações de violência. Dê voz aos representantes dos grupos que irão declamar as poesias.
Importa ainda destacar que elementos de contradição nessa discussão também vão aparecer. Por exemplo, uma questão é: toda ideia tem que ser aceita? E se essa ideia é violenta contra um outro indivíduo? Essa discussão, professor, já prepara a leitura do artigo de opinião Os limites da diversidade cultural, de Antônio Cícero5, que deverá ocorrer na outra aula. Nesse texto, o autor afirma que os direitos humanos devem se sobrepor ao direito à diversidade.
Aula 2
Nesta aula será lido um artigo de opinião de Antônio Cícero: Os limites da diversidade cultural, disponível em:
• http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=2993.
Momento 1: leitura do artigo.
Proponha que leiam o artigo, procurando perceber se o autor defende a diversidade cultural em qualquer contexto ou não.
Momento 2: discussão do artigo.
Deixe que os alunos comentem livremente o texto, respondendo à questão proposta e reportando outras ideias mais centrais:
•Desafie‐os a formular a questão polêmica por detrás do artigo (os direitos humanos devem se sobrepor à diversidade cultural? Ou a diversidade cultural pode se sobrepor aos direitos humanos?), a explicitar o posicionamento do autor (sim, os direitos humanos devem se sobrepor; não, a diversidade cultural não pode se sobrepor aos direitos humanos) e a indicar pelos menos um argumento utilizado. Garanta que seus alunos conheçam a Declaração dos Direitos Humanos6 e, se houver interesse, a própria Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural da UNESCO7, já que precisarão de alguns elementos prévios para a discussão sobre esse tema.
•Destaque o conceito de cultura que aparece no 1º parágrafo e o sentido de usar o termo no plural (são várias as culturas).
•Peça que se posicionem frente à questão.
•Registre as principais questões levantadas e as frases sínteses da classe (uma ou duas).
Momento 3:
produção do artigo de opinião.
Se houver tempo (será necessária outra aula), proponha a escrita de um artigo de opinião que tenha como pano de fundo a temática da diversidade cultural. Essa atividade pode também ser a última desta prática.
•Retome as características de um artigo de opinião já trabalhadas.
•Forneça elementos de um contexto de produção do artigo: “Imagine que você escreverá um artigo de opinião que será publicado num grande jornal da sua cidade, discutindo questões ligadas à diversidade cultural e/ou aos direitos humanos. Antes de mais nada, você deverá deixar clara qual a questão que irá discutir” (colocar alguns exemplos, como os que se seguem).
•Algumas situações da vida social podem ser recortadas como possíveis questões controversas. A seguir, sugerimos algumas dessas situações (que devem ser complementadas por você e pela classe) e alguns sites que fornecem informações/dados/opiniões, na perspectiva de alimentar – do ponto de vista do conteúdo – a produção do artigo de opinião:
A diversidade cultural deve ser respeitada a qualquer custo?
Nesse caso, trata‐se da escrita de um artigo com o mesmo recorte de questão do artigo lido. Da mesma forma que o autor do artigo se serve do exemplo de um juiz que (injustamente, do ponto de vista dos direitos humanos) deu ganho de causa a um marido que batia na mulher, seguindo certas tradições, sugira que o aluno utilize outros exemplos para defender sua posição.
Deve‐se proibir ou não o baile funk?
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u594525.shtml
http://www.cufa.org.br/in.php?id=2009/mat09_148
O Brasil é ou não racista?
http://pt.wikipedia.org/wiki/Racismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Racismo#Brasil
http://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia_racial_no_Brasil
http://cufamaranhao.blogspot.com/2009/06/racismo‐no‐brasil‐na‐pratica.html
Há profissões masculinas e profissões femininas?
http://diplo.uol.com.br/2007‐06,a1598
http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup297149,0.htm
Os homens têm direitos sobre as mulheres?
•Promova uma possibilidade de reescrita do artigo, após a devolutiva da primeira versão.
•Proponha a troca de artigos entre os alunos de forma que cada um tenha o seu artigo lido por alguém. Para finalizar, proponha a leitura de um ou dois para a classe, seguida de comentários.
Ao longo destas aulas, será exibido o filme Escritores da liberdade, a fim de proporcionar elementos para uma discussão oral com os alunos. Providencie cópias para os alunos do Anexo 2 – Roteiro de trabalho com o filme Escritores da liberdade.
Momento 1: apresente para os alunos a proposta do dia que será assistir ao filme Escritores da liberdade. Esse filme tem direção de Richard LaGravanese e se baseia em uma história real.
O filme é estrelado pela atriz Hilary Swank, que faz o papel de uma professora em uma escola dos Estados Unidos. Ela tenta encontrar estratégias de ensino e de relacionamento com sua turma de alunos.
É importante resgatar com os alunos algumas informações que dão fundamento para a compreensão do filme.
A primeira, que é anunciada logo no início do filme, diz respeito aos altos níveis de violência e de conflitos étnicos, característicos do cenário americano (e de outros lugares no mundo).
A segunda é que o filme é baseado no livro O diário dos escritores da liberdade e resgata fatos de uma história real vivida pela professora Erin Gruwell e sua primeira turma de alunos.
Por fim, oriente os alunos a lerem o Roteiro de trabalho com o filme Escritores da liberdade, antes de começar a exibição. Será necessário que eles orientem um pouco o olhar a partir das perguntas do roteiro, de forma a poder ter subsídios para a discussão que será realizada posteriormente.
Professor: É fundamental que você possa assistir ao filme integralmente antes de veiculá
Momento 2: discussão oral.
Após a veiculação do filme, organize na sala ou em outro espaço da escola que achar conveniente uma roda de conversa, na qual você e os alunos possam comentar o filme.
Inicialmente, peça que relatem impressões e sentimentos mais gerais a respeito da história. É muito importante abrir esse espaço para que você possa se aproximar das emoções que emergiram em seus alunos com o filme. Faça seus comentários também.
Após esse primeiro momento, vá trabalhando o roteiro de questões que leram antes da veiculação do filme e que deve ter norteado anotações dos alunos.
Ao final da aula, procure fazer um fechamento que destaque a importância de olhar mais atentamente para as relações entre as pessoas e para aquelas situações que reafirmam conflitos e violências. É interessante também destacar com os alunos as estratégias que a professora engendrou no filme para garantir na sala de aula a troca, o diálogo e o respeito entre os alunos. Não se esqueça das anotações no papel kraft.
Sugestão para finalizar o projeto:
É bastante comum encontrarmos comentários dos espectadores a respeito dos filmes em jornais, sites, revistas e outros meios de comunicação. Que tal propor aos seus alunos comentários sobre o filme Escritores da liberdade? Se for fácil o acesso à internet, sugira que publiquem os comentários em sites especializados em cinema. Uma sugestão:
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=12872
Obs.: Sites como este exigem cadastro para postar comentários. Assim, será necessário trabalhar o preenchimento de cadastros com os alunos, caso eles não saibam fazê‐lo.
Aula 6
A partir da apreciação da letra de uma canção, discutir a questão da motivação que pode levar a conflitos e das possibilidades de superação desses por meio da arte e da cultura. Providencie o CD, cópias do Anexo 3 e da letra da canção proposta, que pode ser encontrada em:
http://afroreggae.musicas.mus.br/letras/455841/.
Há outros sites de letras de músicas que podem ser pesquisados.
Momento 1:
a canção que vamos trabalhar nesta atividade é mais uma produção cultural que dará possibilidade à reflexão a respeito das violências e das guerras que marcam o cotidiano e também de caminhos trilhados para a mudança desse cenário. Essa canção, ao mesmo tempo em que defende que nenhum motivo explica a guerra, lista uma série de argumentos que têm sido utilizados na História para justificar guerras e conflitos.
Para realizar esta atividade, deve ser providenciado o CD Nenhum motivo explica a guerra, da banda AfroReggae, disponível para venda em lojas especializadas.
Previamente ao trabalho com a canção em sala de aula, faça com a turma um levantamento perguntando se conhecem o trabalho do Grupo Cultural AfroReggae. É bastante provável que muitos dos alunos já conheçam, especialmente a banda AfroReggae. Proponha que, se tiverem curiosidade, procurem conhecer os trabalhos desenvolvidos por esse grupo, além do trabalho da banda. Proponha que os alunos, em uma primeira oportunidade, acessem o site www.afroreggae.org.br.
Ao realizar essa pesquisa, os alunos encontrarão um trabalho significativo do Grupo Cultural AfroReggae em comunidades populares do Rio de Janeiro, que visa a possibilitar o acesso a:
(...) educação, cultura e arte a territórios marcados pela violência policial e do narcotráfico, com a marca institucional de conseguir criar alternativas de emprego e lazer. Enquanto alguns poucos que podem blindam seus carros e transformam suas casas em fortificações cercadas de sistemas de vigilância, para terem a ilusão de que estão protegidos, o AfroReggae vem trabalhando ao longo dos anos no sentido de romper com os abismos que separam negros e brancos, ricos e pobres, na certeza de que esta é a única alternativa para que se possa construir uma paz duradoura (retirado de http://www.afroreggae.org.br/sec_historia.php em agosto/09).
Essa contextualização dará possibilidade para se compreender melhor a motivação do grupo em cantar “Nenhum motivo explica a guerra”, ocasião em que seus integrantes se posicionam de forma contrária a qualquer guerra.
Essa canção tem letra de Arnaldo Antunes e música de Altair, Ando, Chico Neves, Cosme Augusto, Jairo Cliff e Joel Dias (componentes do AfroReggae).
Nas palavras do AfroReggae, a legitimidade da banda em cantar a situação de “guerra” está posta pelo fato de ser uma problemática vivida no lugar de origem e de intervenção do grupo.
Uma de suas características [da banda AfroReggae] é a de ter sido forjada no espaço contraditório da favela. Espaço que é o da riqueza cultural, da solidariedade, da estética radical das produções do campo popular. Mas também é o espaço conflagrado. Afinal, como exemplificado no início, a guerra também faz parte do seu cotidiano. Por isso é tão oportuno o lançamento do novo disco, e do novo espetáculo, da Banda: “Nenhum motivo explica a guerra”.
Retirado de
http://www.afroreggae.org.br/sec_subgrupos.php?id=1&sec=subgrupo em Agosto/09.
A canção “Nenhum motivo explica a guerra” é, então, uma forma bastante efetiva de assumir a posição ideológica do grupo, que busca agir em favor da criação e consolidação de ambientes inclusivos e pautados na busca de uma paz atuante.
Na música, há alguns trechos em inglês, em que também são questionados os motivos de uma guerra, o porquê e para que estamos lutando e imprimindo sofrimento a todos. Seria muito interessante pedir a ajuda de um professor de Inglês da escola para trabalhar esse trecho da música junto aos alunos.
Para conhecer um pouco mais sobre o disco e a música “Nenhum motivo explica a guerra”, você pode acessar o endereço http://www.afroreggae.org.br/sec_subgrupos.php?id=1&sec=subgrupo.
Momento 2: discussão da canção.
Retome, coletivamente, os itens do Anexo 3 – Ouvindo música e refletindo: que motivos explicariam a guerra? Discuta com os alunos os índices apresentados na questão 5 e conduza a discussão da questão 6, relacionando oralmente as propostas feitas.
Explore um pouco da música em si. Comente sobre a mistura de ritmos e instrumentos. Veja se os alunos conseguem identificar referências. Caso não consigam, selecione algumas informações do site http://www.afroreggae.org.br/sec_subgrupos.php?id=1&sec=subgrupo).
Como nas aulas anteriores, produza registros no papel kraft. Ao final da aula, retome todos os registros, como forma de recuperar o percurso feito.
Ainda nesta aula, aproveitando que você terá disponível o CD em sala, selecione mais uma ou duas canções para escutar e comentar com seu grupo de alunos. Não deixe de imprimir cópias das letras dessas músicas, de forma a possibilitar que acompanhem efetivamente a canção.
Duas músicas do disco são especialmente interessantes para continuar a reflexão sobre a temática da oficina.
A primeira, “Haiti”, de Gilberto Gil e Caetano Veloso, traz elementos importantes para analisar o racismo, bastante presente nas relações sociais, que atravessa e condiciona situações de vida desiguais para os diferentes grupos sociais.
A segunda, “Coisa de Negão”, com letra de Ando, Dinho e LG e música de Dinho, Cosme Augusto, Jairo Cliff e Joel Dias, é uma canção de ritmo bastante envolvente que valoriza a cultura negra. Esse aspecto traz à cena a busca do AfroReggae em valorizar a arte e a cultura afrobrasileiras.
Essa música propicia um clima motivador e animado para terminar a aula com o foco na valorização de si e do outro, condição fundamental para a instauração de espaços de diálogo e troca entre as pessoas.
É importante relacionar a experiência com a cultura, produção eminentemente humana, com a possibilidade de criação e vivência em comunidade, de um mundo compartilhado e interessado na melhoria de vida de todos. Para tanto, há que se lidar com os conflitos e as discordâncias de formas menos bélicas e destrutivas. Assim, por meio da arte e da cultura e do olhar para a experiência humana de forma atenta, busca‐se criar espaços de diálogo e de solidariedade no nosso próprio entorno.
Anexo 1
Discutindo sobre os pontos de vista: na poesia e na vida
Seu professor vai distribuir dois poemas. Em grupos, vocês irão discutir questões sobre os poemas lidos. Um membro do grupo deverá se responsabilizar pelo registro das discussões e por apresentá‐las para a classe.
1.Por que a mosca declara não acreditar em Deus?
2.Como a aranha se refere a Deus? Ela declara que acredita em Deus? Por quê?
Agora leiam o poema "A verdade", de Carlos Drummond de Andrade:
3.O que esses poemas possuem em comum?
4.A partir dos títulos dos poemas, escrevam uma frase que sintetize a ideia central desses textos.
5.Há algum limite para diferenças em termos de percepções? Há “verdades” que devem ser aceitas por todas as pessoas? Quais? Por quê?
6.No seu grupo de amigos, há pessoas que pensam/agem/comportam‐se de forma diferente da maioria? Essas diferenças influenciam a forma como essas pessoas tratam as outras e são tratadas?
Agora, um aluno de cada grupo vai ser preparar para declamar um dos poemas para o restante da classe. O restante do grupo vai ajudar na escolha e na preparação. É importante que se façam várias leituras em voz baixa (para o grupo), buscando uma declamação que mais se ajuste à interpretação do poema. Cuide do ritmo, da altura da voz e da entonação. Mudar de voz para fazer diferentes personagens pode ajudar.
Anexo 2
Roteiro de trabalho com o filme Escritores da liberdade
Você assistirá ao filme Escritores da liberdade, de Richard LaGravenese. No decorrer do filme, vá fazendo anotações sobre suas percepções em relação à produção, assim como reflexões decorrentes das questões deste roteiro.
Lembrando que essas questões servem apenas como pontos para reflexão, que podem ajudar a se olhar o filme de forma mais atenta, principalmente no que diz respeito às temáticas que vêm sendo discutidas em sala de aula.
Antes de ver o filme:
Procure observar como os diferentes grupos se organizam no espaço escolar, como vão se constituindo e os argumentos que utilizam para manter os conflitos, as guerras. Observe também como e por que as relações entre os grupos de alunos vão se modificando.
Depois de ver o filme – para discutir com a classe:
1)Que percepção a escola tem dos alunos da turma de Erin Gruwell?
2)Como os alunos percebem os professores da escola?
3)Que reação Erin Gruwell tem ao ver o desenho estereotipado de Jamal? A professora faz uma provocação “comparando” as gangues de rua à “gangue do nazismo” e acaba por desenvolver algumas atividades em torno da questão do nazismo e dos crimes contra as pessoas motivados por preconceitos. Que sentimentos parecem ter emergido com a proposta de atividades da professora?
4)O que o “Jogo da linha” permite observar? Ele distancia ou aproxima as pessoas? Por quê?
5)Por que a proposta de escrita do diário acabou tendo a adesão de todos os alunos?
6)O filme apresenta diferentes relatos de experiências, desde a da própria professora Erin Gruwell, as de seus alunos, até as experiências dos sobreviventes do Holocausto. Em que narrar suas experiências e ouvir as experiências dos outros parece ter influenciado as relações entre os próprios alunos e entre os alunos e a professora?
Anexo 3
Ouvindo música e refletindo: que motivos explicariam a guerra?
Atividade em sala de aula:
Vocês deverão escutar a música e acompanhar a letra impressa, indicando reflexões que considerem importantes para a conversa que será realizada a partir da pergunta: que motivos explicam a guerra?
1.A que guerras a letra da canção parece estar se referindo?
2.Quais argumentos, que buscam justificar a guerra, são combatidos na música? Você relaciona algum deles a conflitos do cotidiano e da história do mundo?
3.No contexto da canção, explique, com exemplos, o que o autor quer dizer com:
•Ninguém tem que fazer o que não quer
•Ninguém precisa ser o que não é
•Ninguém tem que seguir o que não crê
4.Se não for por meio da guerra ou de atos violentos, como resolver/mediar conflitos, de forma que os diferentes pontos de vista possam ser respeitados, mas que também estejam garantidos os direitos humanos?
5.Uma recente pesquisa sobre violência realizada nas escolas públicas de Brasília8 traz os seguintes dados:
•74,9% dos alunos afirmam saber que ocorrem xingamentos nos espaços escolares;
•45,3% já sofreram essa agressão verbal; e
•3% reconhecem tê‐la praticado.
Esses xingamentos, em geral, referem‐se a alguma característica pessoal que é alvo de discriminação ou de estereótipos – fazem menção a negros, mulheres, homossexuais, nordestinos, pessoas mais gordas ou magras etc.
6.E na sua escola, essa é uma realidade comum? Junto com seus colegas e professor(a), procure relacionar algumas estratégias concretas de intervenção no espaço da sala de aula e, se for possível, da sua escola, que possam facilitar as relações interpessoais e minimizar atitudes agressivas.
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