9 de set. de 2011

ANÁLISE TRANSFORMA-SE O AMADOR NA COISA AMADA

Poesias de Luís Vaz de Camões

ANÁLISE

Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.


Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada.


Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma, 


Está no pensamento como idéia;
O vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.

Neste soneto, há a comunhão amorosa de almas. Se não há ligação de almas, não há amor. Pelo pensamento, o apaixonado ("o amador") se transforma na "cousa amada", composta de corpo e espírito ("linda e pura semideia"). Esta é ajustada à alma do poeta ("com a alma minha se conforma") da mesma maneira que o "acidente" (ou o adjectivo) adere intimamente ao "sujeito" (ou o substantivo). "Está no pensamento como ideia", isto é, o poeta possui, no pensamento, a ideia do Amor e da Amada, jamais o Amor e a Amada corporificados, visto que, o poeta anseia pelo amor em sua integridade e universalidade. Camões concebe e procura o amor na sua expressão plena, em que se misturam ao mesmo tempo apelos sensuais e espirituais. Vemos aí, um platonismo mais elaborado.

Note no texto acima que o poeta não apenas confessa seus sentimentos. Há uma análise, um filosofar sobre eles, o que possibilita caracterizar seu lirismo como reflexivo. Não é à toa, portanto, que predomina no poema um amplo jogo de raciocínio, revelado por conectivos ou articuladores que revelam um caminhar lógico de pensamento, como “por virtude”, “logo”, “pois”, “se”.

Tal estrutura filosófica é também percebida pela própria engenharia do texto. Veja que o primeiro verso é uma tese, explicada no segundo. O terceiro verso é uma exemplificação do postulado do primeiro. O quarto verso é uma explicação/justificação do que está exposto no anterior.

Outro aspecto importante e que será encontrado no conjunto da obra é o uso de uma primeira pessoa que não compromete o ideal de universalismo tão cobrado em sua escola literária, o Classicismo. Ou seja, o que é apresentado nos terceiro e quarto versos (o eu-lírico não deseja a amada) é exemplificação da tese exposta no primeiro verso.
 

É notável em tal soneto outra influência de Petrarca, que é a presença do neoplatonismo. No entanto, Camões reinterpreta-o de sua própria maneira, o que permite identificar o que se chama da neoplatonismo camoniano.

retirado de:
http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.com.br/2008/07/breve-anlise-de-poema_17.html em

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