2 de set. de 2011

Por entre versos

Prática de Leitura e Escrita
Por entre versos (e outras linguagens): apreciando e declamando poemas1
5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental
Justificativa


Fruir um texto literário é perceber essa recriação do conteúdo na expressão e não meramente compreender o conteúdo; é entender os significados dos elementos da expressão. No texto literário, o escritor não apenas procura dizer o mundo, mas recriá‐lo nas palavras, de modo que, nele, importa não apenas o que se diz, mas o modo como se diz.



Se não fosse a literatura – poesia, ficção – nada saberíamos do mistério individual dos outros, do seu mundo interior, da multiplicidade psicológica do homem.

Propiciar a formação de um leitor literário é um dos objetivos da educação básica. Para tanto, é preciso que ao longo da sua escolaridade o aluno possa ter experiências significativas de leitura de livros literários – em prosa e em versos (romances, contos, poemas) – e possa se apropriar de conhecimentos necessários para fazer apreciações, valorações e escolhas. Nesse sentido, entendemos que os conhecimentos da teoria literária, diferente de ser um fim em si mesmo, devem ser convocados a serviço da fruição do texto pelo leitor, na direção apontada por Platão e Fiorin em uma das passagens que serve como epígrafe do presente texto.

Por outro lado, a experiência de fruição literária, como diz Antonio Candido, “humaniza em sentido profundo, porque faz viver”. Faz viver porque, como também afirma Meyer (em epígrafe), ao penetrarmos no universo criado pelos escritores e poetas, temos a oportunidade de conhecer a experiência de outros, reconhecer lá os problemas que também são nossos e refletir sobre eles com tristeza ou com humor.
Ler e compreender poemas, portanto, é uma das formas de ter contato com esses conhecimentos e experiências, de uma forma intensa. Por isso é objetivo deste projeto fazer circular a poesia na escola, enfocando o trabalho na apreciação de poemas (do que nós construímos a partir do que eles trazem)


Espera‐se que por meio desta atividade os alunos:

• ampliem sua proficiência para a leitura de textos poéticos, atribuindo‐lhes sentidos adequados;
como sentidos) e na apropriação de diferentes formas de linguagens e recursos para “relermos” o que esses poemas nos dizem.

Tal proposta se baseia, essencialmente, na leitura e declamação de poemas por meio da análise dos recursos que os constroem. Em geral, os alunos não conseguem fazer boas leituras de poemas em voz alta: não imprimem ritmo, nem entonação adequada para uma leitura expressiva. E não fazem isso porque, muitas vezes, não compreendem o que leem, porque um poema bem declamado exige uma compreensão mais profunda do que se lê.

É natural não compreender, de imediato, o que o poeta quis dizer. Analisar a forma como se construiu sua musicalidade ou ritmo e o efeito causado pelo jogo das palavras exploradas em seus sentidos, sons ou imagens ajuda‐nos a construir os sentidos que inicialmente estavam implícitos e obscuros para nós. Muitas vezes, a escuta de um poema bem declamado nos ajuda a perceber melhor esses efeitos e a apreciar a leitura.
Assim, na prática de leitura de poemas faz‐se necessário, de um lado, promover o desenvolvimento da competência leitora por meio da mobilização de procedimentos e capacidades, quais sejam:

Capacidades de compreensão3, que envolvem ativar conhecimentos prévios sobre o que será lido; levantar hipóteses sobre os conteúdos ou propriedades dos textos; checar hipóteses; localizar e/ou copiar informações; comparar informações; generalizar; produzir inferências.

Capacidades de apreciação e réplica4, que envolvem recuperar o contexto de produção do texto; ter claras quais são as finalidades e metas da atividade de leitura; perceber relações de intertextualidade e de interdiscursividade; perceber outras linguagens como elementos constitutivos dos sentidos dos textos; perceber efeitos de sentido decorrentes de escolhas feitas pelo autor em diferentes níveis; elaborar apreciações estéticas e/ou afetivas e apreciações relativas a valores éticos e/ou políticos.

Por outro lado, faz‐se necessário também investir na leitura oral desse poema como uma forma de dar à leitura os sentidos construídos pela compreensão do texto – recorrendo a outras linguagens, se necessário e desejado. Para tanto, saber dos recursos de que dispomos para preparar uma boa declamação faz parte dos conhecimentos necessários para possibilitar que, por meio da escuta, o outro também faça uma leitura fruída do poema.

Como se pode depreender do que foi dito, a declamação de poemas se apresenta como uma situação oral pública em que os alunos terão de adequar as suas falas a esta situação de comunicação

Objetivos


•demonstrem interesse pela literatura, considerando‐a forma de expressão da cultura de um povo;
•façam uso dos conhecimentos de teoria literária para compreender os poemas como uma produção estética;
•façam uso dos recursos da linguagem oral em uma apresentação pública;
•reconheçam as etapas do processo de planejamento da declamação ou dramatização.
Procedimentos metodológicos

Considerando que o foco deste projeto é a leitura e declamação de poemas e que a base do trabalho de observação de declamações se faz por meio da análise de videoclipes (também chamados pelos próprios clippers de videopoemas), que envolvem som e imagem, a leitura não se restringirá ao texto escrito, mas ao diálogo que se constrói entre o poema e as suas versões (que são interpretações em outras linguagens) declamadas por uma voz e manipuladas por outras linguagens visuais como a animação, a mímica e a pintura.
Isso quer dizer que as situações didáticas sempre envolverão um movimento de olhar contínuo das partes para o todo e vice‐versa, de modo a observar os recursos próprios de cada linguagem para a construção de sentidos. Ou seja, o nosso movimento será observar os recursos próprios do poema escrito na relação com os recursos próprios da leitura oral declamada e com os recursos próprios da montagem de imagens na construção do vídeo.

As situações didáticas sugeridas preveem diferentes formas de organização da sala:

•Aula expositiva dialogada para a apresentação do projeto, contextualização da leitura proposta e ativação de conhecimentos prévios sobre o objeto do projeto;
•Aulas com discussões em grupo ou coletivas, quando serão compartilhadas as impressões pessoais de cada aluno sobre os poemas e videoclipes;
•Evento público de declamação de poemas.

Recursos necessários
•Sugestão de alguns títulos de livros de poemas:

Título
Poeta ou poetisa / Editora
Valor aproximado da unidade em R$
Melhores poemas de Cecília Meireles
Cecília Meireles / Editora Nova Fronteira
32,00
Melhores poemas de José Paulo Paes
José Paulo Paes / Editora Ática
29,00
Antologia Poética
Carlos Drummond de Andrade / Record
37,00
Amar se aprende amando
Carlos Drummond de Andrade / Record
28,00
Melhores poemas de Paulo Leminski
Paulo Leminski / Global
34,00
Melhores poemas de Mário Quintana
Mário Quintana / Global
22,00
Melhores poemas de Ferreira Gullar
Ferreira Gullar / Global
39,00
Vinícius de Moraes – Poesia Completa e Prosa
Vinícius de Moraes / Nova Aguilar
289,00

•Papel sulfite A4.
•cartucho de tinta preta ou toner para imprimir:

Projeto para o professor (uma cópia – 16 páginas);

Cópias para todos os alunos dos textos para leitura (poemas) – número de alunos X 4.

Ações

Este projeto tem previsão de ocupar de 4 a 5 aulas, além do tempo destinado à preparação do aluno.
Antes de iniciar o trabalho, certifique‐se de ter providenciado os materiais arrolados a seguir.


MATERIAL NECESSÁRIO PARA O PROJETO

Cópias dos poemas que serão analisados:
“Pescaria”, de Cecília Meireles:
http://zezepina.utopia.com.br/poesia/poesia177.html
“Ou isto ou aquilo”, de Cecília Meireles:
http://zezepina.utopia.com.br/poesia/poesia128.html
“Retrato”, de Cecília Meireles:
http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/retrato.htm
“Quadrilha”, de Carlos Drummond
http://amorecultura.vilabol.uol.com.br/quadrilh.htm
DVD com os videoclipes dos poemas gravados. Todos os vídeos estão nas páginas do YouTube. Para salvar diretamente da página é necessário ter o programa de download e de gravação de DVD do RealPlayer.
Os endereços dos vídeos são:
“Pescaria”, de Cecília Meireles (2 vídeos):
http://www.youtube.com/watch?v=4__mW0ZsqXc
http://www.youtube.com/watch?v=yTd1NnlZhRM
“Ou isto ou Aquilo”, de Cecília Meireles:
http://br.youtube.com/watch?v=HBsZJI_2Ja0&feature=related (extra)
“Retrato”, de Cecília Meireles:
http://br.youtube.com/watch?v=hYEMQ0Gbe38&NR=1
“Quadrilha”, de Carlos Drummond
http://br.youtube.com/watch?v=2hG9PsqJGds
http://br.youtube.com/watch?v=otS3Kfdw6Zg (extra)
http://br.youtube.com/watch?v=C6tNuId7RNA&feature=related (extra)
TV e aparelho de DVD ou Datashow e acesso à internet



Aula 1 Conhecendo e analisando videoclipes poéticos

PASSO 1 – Primeiras apreciações do videoclipe (coletivo)

•Para iniciar a apresentação do projeto comece anunciando que a turma assistirá a um videoclipe musical. Pergunte o que sabem sobre videoclipes, se assistem, quais conhecem etc. Caso disponha de tempo, apresente o videoclipe musical – que é o mais comum – da canção “Diariamente”, com Marisa Monte (ou qualquer outro da sua escolha) para que eles se lembrem ou criem referências. Neste caso, será importante comentar o vídeo com eles. Você poderá encontrar o vídeo na página http://br.youtube.com/watch?v=De2XmncutzA&feature=related e deverá salvá‐lo.

•Cabe esclarecer que os videoclipes musicais surgiram na década de 60 e no Brasil entrou forte a partir da década de 80 e 90. Vale comentar, também, que há canais de televisão especializados em videoclipes, como o da MTV;

•Depois desta introdução esclareça que eles verão na seqüência alguns videoclipes que têm sido feitos com poemas. Comece pela exibição do poema de Cecília Meireles – Pescaria (http://www.youtube.com/watch?v=4__mW0ZsqXc);

•Deixe‐os assistir a um dos vídeos, sem que tenham acesso à cópia do poema. Depois faça o mesmo com o outro vídeo do mesmo poema (http://www.youtube.com/watch?v=yTd1NnlZhRM).

•Após a exibição dos dois vídeos, ainda sem as cópias do texto, promova uma roda de conversa, estimulando o grupo a discutir os videoclipes (imagem e texto), iniciando com perguntas do tipo:

O que vocês entenderam dos dois vídeos? Do que fala o poema declamado durante a exibição das imagens?

Vocês acham que tem alguma relação de sentido entre o poema e as imagens?

Que linguagem foi usada para compor a seqüência de imagens no primeiro vídeo? E no segundo?

PASSO 2 – leitura e compreensão do poema (coletivo)

•Depois dessa conversa, distribua a cópia do poema e faça uma leitura solicitando que os alunos a acompanhem. Capriche na leitura, realizando‐a com muita expressividade, acentuando as assonâncias e aliterações presentes em peixes, cheiro, cheio, chão.

•Após a leitura, proponha uma nova conversa, procurando explorar os sentidos do texto. Por meio de perguntas, leve‐os a observar que o poema fala de uma “cena” vista pelo eu lírico. Veja se eles conseguem “remontar” essa cena. Caso seja necessário, retome a exibição do primeiro vídeo assistido (o da animação que resgata mais linearmente a cena do poema). Aborde também questões que resgatam as sensações despertadas pelo poema:

a)O que vocês sentiram em relação ao texto?

b)Parece que o eu lírico está satisfeito, melancólico, alegre, triste? O que vocês acham que ele está sentindo em relação ao que vê?

•Explore também as escolhas das palavras pela repetição sonora e convide‐os a analisar o efeito dessa repetição, tendo em vista o conteúdo do poema (os sentimentos expressos nele). Você poderá propor observações e questões como:

a)Reparem nas escolhas das palavras da poetisa. Vejam se há palavras com sons semelhantes. Grifem essas palavras.

b)Agora vamos todos juntos ler a primeira estrofe do poema exagerando na pronúncia desses sons que se repetem

Cesto de peixes no chão.

Cheio de peixes, o mar.

Cheiro de peixe pelo ar.

E peixes no chão.

c)Esse som que a gente ouviu se repetir é parecido com algo de que se fala no poema? Vocês conseguem descobrir o que é?

•A esta altura da conversa, caso tenham dificuldade, volte a exibir os vídeos e discuta com eles qual o cenário montado no vídeo. Assim, eles poderão relacionar o mar, o barulho das ondas e a repetição sonora ao longo do poema.

•Aproveite para perguntar qual declamação eles acham que melhor enfatizou essa sonoridade do poema: a declamação do vídeo com animação ou com mímica (gestos, imagens e movimentos com o uso das mãos)?
Comentários sobre os videoclipes dos poemas

Nesse poema de Cecília Meireles, a imagem que mais se destaca na construção do discurso é a sonora: por meio de repetição de sons, pelo uso de assonâncias e aliterações, a poetisa dá ênfase ao som representado pelo x e ch em peixes, chão, cheiro, chora, chegarão... e aos sons representados pelos ditongos –ei e –ão em peixes, cheiro, cheio / chão, vão, chegarão.

Essas repetições, associadas ao conteúdo do poema, que resgata a cena do mar e dos peixes se debatendo na areia da praia, produzem o efeito do barulho do mar, das ondas que vêm e vão. Ao mesmo tempo, também nos remetem ao som da palavra choro. Por meio dessas aproximações, podemos associar o barulho do mar e das ondas ao choro, como um lamento pela perda dos peixes. Também a repetição dos sons do ditongo fechado –ei nos remete ao chamamento, à solicitação de atenção, como se o eu lírico estivesse a dizer: Ei, vejam só...

É importante deixar que os alunos pensem nos efeitos que essas repetições causam neles. Convide‐os a se aventurarem nessa diversão que é entrar no jogo das palavras e descobrir sentidos que ainda não tinham construído. Você também pode chamar atenção para as assonâncias com o –ão com perguntas do tipo:

•Parece um som alegre ou triste no poema?
•Esse som está na palavra chão (onde os peixes estão, fora do mar)! Isso é bom ou ruim?
•Onde mais esses sons aparecem?
•E o que está sendo dito aí? Isso é bom ou ruim para os peixes?
•Afinal, que sensação o eu lírico parece “passar” sobre o que vê?

Veja que esses sons aparecem também nas mãos que não chegarão aos peixes no chão: no momento em que se percebe que os peixes não serão “salvos pelo mar”, que sofreu uma perda!

Esclareça que quando se trata de declamar poemas, é importante explorar bastante os sentidos do texto para experimentarmos os diversos sentimentos, imagens e ideias que nos despertam. Isso nos ajuda a fazer uma leitura que “interpreta” esses sentidos; que deixa marcados, no tom da voz, no ritmo, na entonação das palavras, os sentidos que construímos sobre os poemas.

Declamar um poema é dar a conhecer os sentidos que nós, como leitores, construímos do texto.

Sobre os vídeos

Ambos resgatam o cenário do poema: o mar e os peixes. O primeiro vídeo (o de animação) segue mais à risca o poema, procurando organizar pela imagem o percurso linear do que o eu lírico parece observar e do que sente em relação ao que vê. A declamação também parece explorar mais as repetições sonoras – especialmente as aliterações em cheeeeio, choooora. As imagens construídas da maré cheia, tomando (enchendo) toda a tela, e também das ondas como mãos que não alcançam os peixes são muito expressivas.
Já o segundo vídeo foca mais o mar e suas criaturas. Apenas no final do vídeo há maior enfoque para a aflição dos peixes (representada por um único peixe) e do mar que não consegue alcançar os peixes. Chama atenção nesse vídeo a expressividade dos gestos e movimentos das mãos – quando as mãos vêm e vão em vão e não conseguem chegar ao peixe: nesse momento, o movimento lento parece dar adeus ao peixe. Muito expressivo!

Aula 2 Comparação da declamação de dois poemas por um mesmo ator

PASSO 1 – Poema “Retrato”, uma leitura inicial

•Nesta aula, os alunos assistirão à exibição de dois vídeos relativos a dois poemas diferentes, declamados pela mesma pessoa.
•Inicie o trabalho com a leitura do texto, antes da exibição do vídeo. Distribua a cópia do poema “Retrato”, de Cecília Meireles. Peça que eles façam uma leitura silenciosa do poema, atentos a três questões que serão discutidas logo depois:

Considerando o título do poema, sobre o que vocês acham que o poeta vai falar?

Vocês acham que é um poema triste ou alegre? Por quê?

O que vocês acham que esse eu poético está sentido?

•Após a leitura, retome essas três perguntas, que os ajudarão na compreensão global do poema. Peça para que se reúnam em duplas e conversem – além de fazer anotações, grifar o texto, se for necessário – sobre o que acham que existe no texto que o faz causar a sensação (de alegria ou de tristeza). Oriente‐os a observar as escolhas das palavras: se há palavras com sentido mais negativo ou mais positivo, por exemplo.

PASSO 2 – O videopoema Retrato, com declamação de Paulo Autran

•Para que entendam melhor o vídeo como um recorte de determinadas imagens ou ideias do texto – que se configura como uma interpretação do texto fazendo uso de outras linguagens –, comece pela exibição do vídeo do poema “Retrato”, de Cecília Meireles , mas retire o som, deixando‐os apenas com a imagem. Em seguida, pergunte à turma:

O que acontece na seqüência das imagens?

A seqüência tem alguma relação com o que discutimos sobre o poema?

Que idéia o videocliper (a pessoa que preparou o vídeo) aproveitou do poema?
 


Que linguagem foi usada para compor a seqüência de imagens? Quais são os recursos próprios dessa linguagem?

Reparem nas mudanças da imagem: o que aconteceu com o uso das cores e outras modificações possíveis de observar? O que essas mudanças produzem de diferente em relação ao sentido da imagem inicial e da imagem final?

•Na seqüência, os alunos deverão observar os sentidos que se constroem quando introduzimos a leitura que Paulo Autran faz do poema. Para tanto, retome a exibição do mesmo vídeo, agora com som e peça para eles observarem durante a escuta se a declamação do ator demonstra alegria ou tristeza. Depois volte a conversar sobre o assunto. Cheque com eles se o que haviam discutido antes tem relação com o que entendem agora, com exibição completa do vídeo (imagem e som). Se necessário, reproduza o vídeo, novamente.

•Para explorar a leitura declamada do poema, organize pequenos grupos (de 3 a 4 alunos) e apresente a eles perguntas do tipo:

E então? De acordo com a declamação do ator, ele entende o conteúdo do poema como triste ou alegre? O que vocês acham que ajudou a criar essa sensação? Que recursos o ator usou para dar esse tom à declamação?

E se a gente juntar a declamação com a imagem? A sensação continua a mesma? Etc.

Comentários sobre o vídeo do poema “Retrato”

Durante a análise das linguagens que se combinam na composição do vídeo, será importante observar cada um dos elementos para compreendê‐los melhor em suas relações. O movimento de exploração sugerido na atividade assim se justifica: é preciso compreender os recursos usados na construção do texto e seus efeitos de sentidos para poder compreender os recursos escolhidos na transposição para outras linguagens – os recursos usados pelo ator, na declamação, e os recursos usados pelo videoclipper, na composição do vídeo, dialogam para construir o efeito de sentido final do que se vê e ouve.

Portanto, nas discussões sobre esses recursos será importante considerar:

Sobre o poema

O poema parece falar da passagem do tempo – e, consequentemente, das experiências vividas – e como o tempo e as experiências podem deixar em nós marcas físicas que externam o que sentimos interiormente. O eu lírico demonstra um sentimento de desconforto, de tristeza e lamento em relação às mudanças sofridas. Por meio de uma comparação implícita, vai construindo o seu discurso literário: lamentando o que se tornou hoje, constrói uma imagem do que esse “eu” foi no passado que parece ser mais positiva. Para essa construção foi fundamental a escolha que a autora fez de palavras com valor negativo que qualificam o que é hoje, como rosto “triste”, “magro”, olhos “vazios”, lábio “amargo”, mãos “sem forças”, “tão paradas”, “frias”, “mortas”, coração que “nem se mostra” e, por fim, a palavra “perdida”. Todas elas associadas à construção inicial dos dois primeiros versos – “Eu não tinha” – possibilitam a comparação da sua imagem hoje com a que foi um dia: o que hoje se vê de negativo não se via antes.

É muito importante chamar a atenção dos alunos para essas escolhas, para que eles percebam que os sentimentos provocados pelos poemas são intencionalmente construídos nos textos pela seleção de palavras: a autora quis falar da mudança como algo que lamenta, evocando a saudade de ser o que está no passado e não volta mais. E, para isso, teve que selecionar palavras com esse valor negativo.

Sobre a declamação

Da mesma forma, compreendendo essa essência do poema, a leitura feita pelo autor Paulo Autran enfatiza esse sentimento expresso no texto: o tom de voz baixo e fraco, o ritmo lento da leitura são recursos expressivos usados na declamação para produzir esse efeito de lamento e tristeza. Chame atenção para a boa dicção do ator, as diferentes entonações ao longo da leitura, as pausas (com o auxílio da pontuação), a diminuição do ritmo de leitura (os “alongamentos” dos versos), especialmente nas enumerações/gradações presentes na construção do 2º verso de todas as estrofes, mas especialmente na 3ª estrofe, quando já está concluindo o poema:

2º verso da 1ª estrofe: assim calmo, assim triste, assim magro,
2º verso da 2ª estrofe: tão paradas e frias e mortas;
2º verso da 3ª estrofe: tão simples, tão certa, tão fácil

Sobre o vídeo

A composição simples do vídeo remete‐nos à ideia de mudança, de passagem de tempo marcada por mudanças nos recursos que compõem a imagem. Faça a mediação da discussão, orientando os alunos a observarem a escolha da pintura (de José Ulisses Gonzales Silva): a expressão tristonha do retrato, a mudança pouca na fisionomia –apenas a mudança dos tons das cores – que vão de cores mais iluminadas (amarelo, laranja, no fundo da tela) para cores mais dramáticas, mais tensas ‐ no caso do vermelho na expressão do retrato ‐ e mais frias – no caso do azul de fundo da tela. Essa modificação pretende transpor para a imagem algumas das sensações impressas no poema – as mãos frias e mortas e o uso do azul, considerada uma cor fria. A mudança dos cabelos, antes longos dando uma expressão mais jovial e agora mais curtos, imprimindo um ar mais sério ao quadro, quando associado às mudanças nos tons da tela. É assim que a imagem constrói a ideia da passagem do tempo e da energia da vida se esvaindo na tela.

É interessante notar que a imagem mantém a mesma fisionomia triste da personagem desde o princípio – o que acaba se contrapondo um pouco ao conteúdo do texto que parece abordar uma mudança maior, mais dramática na relação como a poetisa se sentia e se via antes e como se sente e se vê hoje.

PASSO 3 – Poema “Quadrilha”, por Paulo Autran

•Agora é hora de eles contrastarem duas declamações feitas pelo mesmo ator, de textos diferentes. Na sequência, exiba o vídeo do poema “Quadrilha”, de Drummond, também na voz de Paulo Autran . É importante que os alunos saibam que se trata da mesma pessoa declamando.

•Após a exibição, promova uma conversa sobre os dois vídeos – o do “Retrato” e o do “Quadrilha” –, explorando as semelhanças e diferenças em relação à linguagem do vídeo, à declamação e ao conteúdo do poema:

Quais as semelhanças e diferenças em relação ao vídeo anterior?

E em relação aos dois vídeos? Eles provocam a mesma sensação no leitor? Por quê?

Que sensação a declamação deste poema provocou em vocês? Por quê?

Em relação ao que vocês conseguiram entender sobre o que ouviram, qual a diferença deste poema para o outro? Pensem no tom e no ritmo da declamação.

•Após essa conversa inicial, distribua a cópia do poema e solicite que os alunos se organizem novamente em duplas para refletir sobre questões que visem uma compreensão mais global do texto:

Qual o assunto? Compare com o texto anterior.

Qual a relação entre o título do texto e o que se fala no poema?

O ritmo que esse poema exige na leitura é o mesmo que exigiu o texto anterior? Compare os versos do anterior com esses. O que você observou?

•Por meio de perguntas, leve‐os a observar que o tamanho dos versos ajuda a empreender diferentes ritmos em um e em outro; que a construção do poema de Drummond, com a repetição do conectivo “que” (que vai enumerando a repetição de uma determinada ação, variando os casais), ajuda a dar essa forma circular que tem o poema (lembra o recurso dos contos cumulativos) e que exige essa leitura mais contínua, sem tantas pausas.

Comentários sobre o vídeo do poema “Quadrilha”

Sobre o poema “Quadrilha” e o vídeo

Diferente do poema “Retrato”, esse poema de Drummond apresenta um “tom” mais divertido, embora fale dos desencontros amorosos – algo muito comum, inclusive nessa época da vida pré‐adolescente dos alunos (5a e 6a séries). Já no título do poema, somos levados a uma referência da cultura popular folclórica: a quadrilha, uma dança divertida, movimentada, ritmada que envolve troca de pares em vários momentos.

Da mesma maneira, no poema, o autor escolhe apresentar os pares – que sempre se desencontram. O poema apresenta apenas dois longos períodos. O primeiro marca o desencontro dos pares, um após outro.

O ritmo desse desencontro é marcado pelo uso do conectivo “que”, palavra que se repete e marca também o ritmo mais acelerado e contínuo do poema. Esse ritmo é que dá mais leveza ao poema, apesar de falar dos desencontros amorosos.

Na segunda metade do poema, os sujeitos aparecem não mais conectados ao outro – apesar dos desencontros. Eles aparecem desconectados, “separados por vírgulas” e “resolvendo” suas vidas. E, aí, acontecem com eles as mais variadas coisas – como acontece na vida! O irônico é que a única “personagem” que não amava ninguém foi também a única que conseguiu formar um par, afinal, com alguém que nem tinha entrado na história!

A forma escolhida para reconstruir esse ritmo no vídeo foi a seleção de imagens que passam rapidamente pelos nossos olhos. Imagens de personagens aleatórias, das quais muitas vezes não se consegue conhecer a sua aparência (veja os cortes de partes das figuras), o que produz um efeito interessante em relação ao conteúdo do poema, porque reforça a ideia de que esses desencontros são comuns aos seres humanos.

Chame atenção para os ritmos empreendidos pelo ator ao declamar a primeira e a segunda parte do poema:

•O tom se assemelha a uma “ladainha”, no sentido de algo repetitivo, monótono. Há uma longa enumeração que repete uma mesma ideia, dando essa característica de algo meio tedioso, que parece não merecer muito a nossa atenção. Daí essa certa displicência no jeito de falar na primeira parte do poema e, na segunda parte, certa pressa em acabar com a história. Essa displicência dá um tom leve e divertido ao texto. Bem diferente.

•Associado a esse certo tom displicente, está o uso das pausas, que imprimem um ritmo ora mais acelerado, ora mais lento à declamação. Na primeira parte do poema, o ator se estende mais na leitura dos nomes das pessoas amadas – Tereeeesa, Raimuuuuundo, Mariiiiia, Joaquiiiiiim, Liliiii – e a pausa mais incisiva no verso em que fala que Lili “não amava niiiinguéeem”. Veja que Lili quebrou o ciclo dos desencontros! Esse recurso ajuda a produzir o tom displicente e cansativo que o ator dá ao poema.

•Já na segunda parte, o ator acelera o ritmo de leitura e não apresenta as pausas como na parte inicial, a não ser quando, novamente, fala de Lili, que de novo quebrou o ciclo dos desencontros.

Como complementação, você pode também exibir outros dois vídeos sobre o poema que usam recursos bem diferentes de animação e estão disponíveis em:

•http://br.youtube.com/watch?v=C6tNuId7RNA&feature=related
•http://br.youtube.com/watch?v=otS3Kfdw6Zg




Aula 3 Preparação da declamação (com ou sem apresentação com outras linguagens)

PASSO 1 – Planejamento inicial: primeiras decisões

•Agora chegou a vez de os alunos pesquisarem em livros de poemas um poema que lhes agrade. Eles também precisarão decidir se a declamação será acompanhada de alguma dramatização ou uso de alguma outra linguagem. Lembre‐os dos videoclipes que viram e deixe‐os decidir se querem produzir algum material que se articule com a declamação.
•Em ocasião que houver mais tempo e condições materiais adequadas, este projeto pode visar à produção de videoclipes, semelhante aos vídeos que viram. Por hora, eles podem fazer algo mais simples como foi feito no vídeo do poema “Retrato” ou podem, também, fazer uso, além dos recursos da voz, apenas da postura e expressividade facial e gestual durante a declamação. Como exemplo disso, você pode mostrar‐lhes a declamação do poema “Amor”, de Carlos Drummond de Andrade, pelos atores Alexandre Borges e Julia Lemmertz . Discuta com eles o “espírito” do poema e chame atenção para a trilha sonora usada como fundo. Esse também poderá ser um recurso usado por eles
.
PASSO 2 – Como será o evento?

•Esclareça que agora será o momento de começar a se preparar para a apresentação do poema. Você poderá adotar uma das possibilidades:
1.Organização de uma programação de apresentação dos alunos em outras salas ao longo de duas semanas (por exemplo, a cada dia, um pequeno grupo de alunos – quatro ou cinco – se apresenta na abertura das aulas em outras salas.
2.Uma variação da anterior: o mesmo princípio de organização, mas para declamar na própria sala, no início da aula.
3.Organização de um sarau na própria sala ou na escola, em que todos se apresentem num único dia.

PASSO 3 – Pesquisa e seleção do poema

•Para a seleção do poema, será necessário oferecer aos alunos vários livros de poemas. Esclareça que a escolha é muito subjetiva, que deverão selecionar poemas que sejam significativos para eles: que despertem o riso, a alegria ou a tristeza, a dor em relação a algo que lhes toque o coração.
•Procure colocar à disposição autores com diferentes estilos para que possam ter mais opções na escolha. No início deste projeto, apresentamos algumas sugestões de livros que podem ser comprados, mas não limite o universo de escolha deles a essas sugestões. Ofereça outras disponíveis na escola. Oriente‐os a escolher poemas pequenos para começar.

•Decidido o poema e o uso (ou não) de recursos de outras linguagens para a declamação, um primeiro exercício será compartilhar com um colega o poema escolhido e conversarem sobre o poema escolhido (por cada um), para que possam compartilhar os sentidos do texto e, quiçá, um ajudar o outro a compreender melhor. Nesse momento deverão trocar impressões sobre:

O sentido global do texto.

Os sentimentos que ele desperta no leitor: alegria, saudade, tristeza, sofrimento, dor, riso, leveza...

Os recursos que o autor usou: é um poema que aborda mais a sonoridade das palavras, as ideias ou as imagens?

A declamação deverá enfatizar que tipo de sentimento? Como terá que ser usada a voz? Que tom? Que ritmo dar à leitura?

•Caso os alunos decidam fazer uma dramatização do poema, você poderá propor uma articulação com a professora de Artes, de modo que possam ser orientados sobre o que “recortar” do poema, que linguagem usar etc.

•Será necessário que os alunos dediquem mais tempo, além das aulas, para realizar esta etapa de preparação do trabalho. Na página , você poderá encontrar algumas dicas sobre como se preparar para declamar poemas, que poderão ser disponibilizadas aos alunos, caso ache pertinente. Sugerimos que escolha as dicas mais pertinentes para esse contexto de trabalho e as discuta com os alunos. Chamamos atenção para algumas dicas que reforçam o que discutimos ao longo da análise das declamações. São elas as de nº 1, 5, 7 e 8.

•A apresentação pode ser marcada para duas semanas depois das aulas iniciais, de modo a dar tempo suficiente para que os alunos se preparem. Ao longo desse período, reserve mais uma aula para que possam socializar suas dúvidas sobre o preparo da declamação. Coloque‐se à disposição da turma para ouvi‐los no que for preciso.

Aula 4 Apresentação e Avaliação

PASSO 1

•Apresentação oral, de acordo com o tipo de organização escolhida, na aula anterior.

PASSO 2 – Avaliação

Ao longo do projeto, avalie a participação do grupo durante as conversas sobre os poemas e videoclipes. Observe as dificuldades recorrentes no processo e reflita sobre formas de reorganizar o seu trabalho, de modo a trabalhar sobre tais dificuldades.

A seguir, à semelhança do que é sugerido por Kátia Bräkling, no texto Leitura e Formação de leitores, apresentamos uma proposta de ficha de acompanhamento e outra de avaliação geral:

Ficha de acompanhamento 1 – Professor e alunos

DIÁRIO DE LEITURA DOS POEMAS E VIDEOCLIPES
DATA
POEMA LIDO
DIFICULDADES ENCONTRADAS
FACILIDADES DE LEITURA
DESCOBERTAS PESSOAIS

Ficha de acompanhamento 2 – Auto avaliação Final






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