24 de ago. de 2011

SIMBOLISMO

SIMBOLISMO



O Simbolismo é um estilo literário, do teatro e das artes plásticas que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo e ao Naturalismo.

HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS


A partir de 1881, na França, pintores, autores teatrais e escritores, influenciados pelo misticismo advindo do grande intercâmbio com as artes, pensamento e religiões orientais - procuram refletir em suas produções a consonância a estas diferentes formas de olhar sobre o mundo, de ver, e demonstrar o sentimento.

Marcadamente individualista e místico, foi com desdém apelidado de "decadentismo" - clara alusão à decadência dos valores estéticos então vigentes. Mas em 1886 um manifesto traz a denominação que viria marcar definitivamente os adeptos desta corrente:simbolismo.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS



• Subjetivismo

• Poesia Subjetiva

• Musicalidade

• O uso de Reticências

• Transcedentalismo

• Sinestesia

• Tom vago, impreciso e místico

• Sonoridade

• Aliteração

LITERATURA DO SIMBOLISMO



Os temas são místicos, espirituais. Abusa-se da sinestesia (sensações produzidas pelos diversos órgãos sensoriais), das aliterações (repetição de letras ou sílabas numa mesma oração) e das assonâncias (aproximação fônica entre as vogais tônicas das palavras) tornando os textos poéticos simbolistas profundamente musicais.



O Simbolismo em Portugal liga-se às atividades das revistas Os Insubmissos e Boêmia Nova, fundadas por estudantes de Coimbra, entre eles Eugênio de Castro, que ao publicar um volume de versos intitulado Oaristos, instaurou essa nova estética em Portugal. O movimento simbolista durou aproximadamente até 1915, altura em que se iniciou o Modernismo.

LITERATOS SIMBOLISTAS



Pode-se dizer que o precursor do movimento, na França, foi o poeta francês Charles Baudelaire com "As Flores do Mal", ainda em 1857.

Mas só em 1881 a nova manifestação é rotulada, com o nome decadentismo, substituído por simbolismo em manifesto publicado em 1886. Espalhando-se pela Europa, é na França, porém, que tem seus expoentes, como Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé.

PORTUGAL



Os nomes de maior destaque no Simbolismo português são: Eugênio de Castro, Antônio Nobre, Camilo Pessanha, Augusto Gil, Alfonso Lopes Vieira, Antônio Patrício, Manuel Laranjeira (poesia), Raul Brandão (prosa), Júlio Dantas (teatro).

BRASIL



No Brasil, dois grandes poetas destacaram-se dentro do movimento simbolista: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens. No primeiro, a angústia de sua condição, reflete-se no comentário de Manuel Bandeira: "Não há (na literatura brasileira) gritos mais dilacerantes, suspiros mais profundos do que os seus".

SIMBOLISMO NAS ARTES PLÁSTICAS



Oriundo do impressionismo, Paul Gauguin deixa-se influenciar pelas pinturas japonesas que aparecem na Europa, provocando verdadeiro choque cultural - e este artista abandona as técnicas ainda vigentes nas telas do movimento onde se iniciou, como a perspectiva, pintando apenas em formas bidimensionais. A temática alegórica passa a dominar, a partir de 1890. Ao artista não bastava pintar a realidade, mas demonstrar na tela a essência sentimental dos personagens - e em Gauguin isto levou a uma busca tal pelo primitivismo que o próprio artista abandonou a França, indo morar com os nativos da Polinésia francesa...

                                                Gauguin impressionista



Em França outros artistas, como Gustave Moreau, Odilon Redon, Maurice Denis, Paul Sérusier e Aristide Maillol, aderem à nova estética. Na Áustria, usando de motivos eminentemente europeus do estilo rococó, Gustav Klimt é outro que, assim como Gauguin, torna-se becido e apreciado. O norueguês Edvard Munch, autor do célebre quadro "O grito", alia-se primeiro ao simbolismo, antes de tornar-se um dos expoentes do expressionismo.
                                                             Gauguin simbolista





No Brasil, o movimento simbolista influenciou a obra de pintores como Eliseu Visconti e Rodolfo Amoedo.

LES NABIS



Como consequência do Simbolismo, apareceu o grupo de Les Nabis. Tem a particularidade de ter formas mais simplificadas e cores mais puras. A arte torna-se desta forma uma realidade autônoma do real, pois nela estão patentes emoções, sentimentos e ideologias.

SIMBOLISMO NO TEATRO



Buscaram os autores, dentre os quais o belga Maeterlinck, o italiano Gabriele D'Annunzio e o norueguês Ibsen, levar ao palco não personagens propriamente ditos, mas alegorias a representar sentimento, idéia - em peças onde o cenário (som, luz, ambiente, etc.) tenham maior destaque

ORIGENS

                                                   "O O pintor austríaco Klimt, em Música
                                                     I (1895), enche o quadro de alusões
                                                   simbólicas para representar a criação musical.





A partir de 1880, na França, verifica-se uma reação contra as concepções cientificistas da classe dominante, representadas na literatura pelo fatalismo naturalista e pelo rigor parnasiano.



Neste sentido, o Simbolismo surge não apenas como uma estética oposta à literatura (poesia, especificamente) objetiva, plástica e descritiva, mas como uma recusa a todos os valores ideológicos e existenciais da burguesia. Em vez da "belle époque" do capitalismo financeiro e industrial, do imperialismo que se adonava de boa parte do mundo, temos o marginalismo de Verlaine, o amoralismo de Rimbaud e a destruição da linguagem por Mallarmé.



O artista experimenta agora, à maneira dos românticos, um profundo mal-estar na cultura e na realidade. Mergulha então no irracional, fugindo ao mundo proposto pelo racionalismo burguês, e descobrindo neste mergulho um universo estranho de associações de idéias, lembranças sem um significado definido. Universo etéreo e brumoso, de sensações evanescentes que o poeta deve reproduzir através da palavra escrita, se é que existem palavras para exprimi-las. O Naturalismo e o Parnasianismo estão definitivamente mortos, conforme sentenciou um crítico literário da época:



Em uma época que, sob o pretexto naturalista, a arte foi reduzida somente a uma imitação do contorno exterior das coisas, os simbolistas voltam a ensinar aos jovens que as coisas também têm alma, alma da qual os olhos humanos não captam mais do que o invólucro, o véu, a máscara.



O Simbolismo define-se assim pelo anti-intelectualismo. Propõe a poesia pura, não racionalizada, que use imagens e não conceitos. É uma poesia difícil, hermética, misteriosa, que destrói a poética tradicional.

SURGIMENTO



Os primeiros indícios do movimento encontram-se em Baudelaire, cuja obra máxima, As flores do mal, antecipa certas perspectivas simbolistas. Em 1884, Verlaine publica sua Arte poética, onde os princípios da escola já são evidentes. Em 1886, Jean Moréas vale-se de um manifesto para elaborar teoricamente o Simbolismo. Diz Moréas:



Inimiga do ensinamento, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva, a poesia simbolista procura vestir a Idéia de uma forma sensível.

CARACTERÍSTICAS

1) SUBJETIVISMO
                                                      Absinto (1876), do francês Degas,
                                                        ilustra o mundo boêmio,
                                                          semi-marginal e próximo das
                                                       vertigens oferecidas pelo absinto
                                                            e outras drogas, no qual os
                                                                simbolistas franceses viviam.





Os simbolistas retomam a subjetividade da arte romântica com outro sentido. Os românticos desvendavam apenas a primeira camada da vida interior, onde se localizavam vivências quase sempre de ordem sentimental. Os simbolistas vão mais longe, descendo até os limites do subconsciente e mesmo do inconsciente.



Este fato explica o caráter ilógico ou o clima de delírio de grande parte de sues poemas, como no fragmento de Cruz e Sousa:



Cristais diluídos de clarões álacres,

Desejos, vibrações, ânsias, alentos,

Fulvas vitórias, triunfamentos acres,

Os mais estranhos estremecimentos.

2) O EFEITO DE SUGESTÃO

Diz Mallarmé:



Os parnasianos tomam os objetos em sua integridade e mostram-nos. Por isso carecem de mistério. Descrever um objeto é suprimir três quartas partes do prazer de um poema, que é feito da felicidade de adivinhar-se pouco a pouco. Sugerir, eis o sonho. E o uso perfeito deste mistério é o que constitui o símbolo: evocar o objeto para expressar um estado de alma através de uma série de decifrações.



Sua observação é chave para o entendimento da poética simbolista.

Abandona-se o descritivismo parnasiano em busca de uma revitalização do gênero lírico. São criadas novas imagens, novas metáforas e símbolos. Acentua-se o caráter obscuro de certas palavras e o emotivo de outras, tudo como repúdio à linguagem poética usual, carregada de lugares-comuns, clichês e frases-feitas que se repetiam de geração em geração.



Trata-se de reinventar a linguagem, explorar suas possibilidades, recriá-la palavra após palavra, à procura de imagens originais e envolventes. A verdadeira poesia consiste em não-dizer, não-declarar, não designar as coisas pelos seus nomes triviais. A verdadeira poesia está em insinuar, dizer figuradamente, sugerir.



Cruz e Souza foi especialista na utilização de imagens ousadas com efeito de sugestão. Angústia sexual e erotismo misturam-se na exaltação de uma mulher que parece devorar os homens:



Cróton* selvagem, tinhorão* lascivo, Planta mortal, carnívora, sangrenta, De tua carne báquica* rebenta A vermelha explosão de um sangue vivo



Cróton - arbusto ornamental

Tinhorão - erva ornamental

Báquica - relativo a Baco, deus grego do vinho e da dissipação

3) MUSICALIDADE

Na tentativa de sugerir infinitas sensações aos leitores, os simbolistas aproximam a poesia da música. Entendamos: não se trata de poesia com fundo musical, mas poesia com musicalidade em si mesma, através do manejo especial de ritmos da linguagem, esquisitas combinações de rimas, repetição intencional de certos fonemas, sujeição do sentido de um vocábulo a sua sonoridade, etc. Realiza-se assim a exigência de Verlaine: "A música antes de qualquer coisa."


Rimbaud surpreende a França com o ardor
de seus versos malditos, escritos em plena
adolescência. Verlaine leva a musicalidade e
o efeito sugestivo das palavras a um limite
até então desconhecido na literatura européia.





Somos atingidos pelo efeito dos ritmos e dos sons de qualquer poema simbolista, mesmo que não conheçamos profundamente o idioma em que ele foi escrito. Verlaine, por exemplo, deixou os mais célebres versos desta sedução pela música em Canção de outono:



Le sanglots longs / Des violons / De l´automne / Blessent mon coeur / D´ une langueur / Monotone *

* Os lamentos longos / Dos violinos / Do outono / Ferem o meu coração / De um langor / Monótono.



A música é obrigatória, como nesta espécie de receita poética de Cruz e Sousa:



Derrama luz e cânticos e poemas

No verso e torna-o musical e doce

Como se o coração, nessas supremas

Estrofes, puro e diluído fosse.



Mesmo a morte, na obra do simbolista brasileiro, possui uma terrível musicalidade:



A música da Morte, a nebulosa,

Estranha, imensa música sombria,

Passa a tremer pela minh'alma e fria

Gela, fica a tremer, maravilhosa...

4) IRRACIONALISMO E MISTÉRIO



No princípio, os simbolistas têm como projeto "revestir as idéias de uma forma sensível", isto é, traduzi-las para uma linguagem simbólica e musical. Pouco a pouco, este intelectualismo se converte numa aventura anti-intelectual, numa negativa à possibilidade de comunicação lógica entre os homens.



"Nós não estamos no mundo", brada Rimbaud, o mundo concreto se esvaiu, perdeu sua inteligibilidade. Agora é puro mistério: atrás da ordem aparente das coisas estão o caos, a névoa, a bruma, a neblina, o incorpóreo, o fantasmagórico, o estranho, o inefável*.

                                                  Tempestade, de Wilian Turner, reflete este
mundo nevoento, nebuloso e quase incorpóreo
que os simbolistas tanto valorizam.



Rimbaud considera o artista um vidente que foge da realidade ilusória e penetra na realidade inexplorada das sensações. Para adquirir esta vidência é indispensável um "desequilíbrio de todos os sentidos", uma ponte em direção ao ilógico e à loucura. Só os "alquimistas do verbo" podem enxergar além da obviedade do cotidiano e deparar-se com a essência misteriosa da vida. Cruz e Sousa chega a implorar pelo mistério:



Infinitos, espíritos dispersos,

Inefável, edênicos*, aéreos,

Fecundai o Mistério destes versos

Com a chama ideal de todos os mistérios.



Inefável - indescritível, o que não pode ser expresso.

Edênicos: que procedem do Éden, do paraíso

O SIMBOLISMO NO BRASIL

CONTEXTO CULTURAL



O Simbolismo no Brasil é um movimento que ocorre à margem do sistema cultural dominante. Seu próprio desdobramento aponta para províncias de escassa ressonância: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É como se o gosto dos poetas da escola por neve e névoas, outonos e longos crepúsculos exigisse regiões frias e nebulosas.



Há quase um fatalismo geográfico: Alphonsus de Guimaraens produz seus textos nas cidades montanhosas e fantasmagóricas de Minas Gerais. No Rio de Janeiro, de grandes sóis e clima tropical, o agrupamento simbolista, mesmo com o reforço de Cruz e Sousa - que emigrara da antiga cidade do Desterro (hoje Florianópolis) - acaba sufocado pela luz, pelo calor e pela onda parnasiana.



Os adeptos da nova estética tornam-se alvo de zombarias, quando não de desprezo. A maioria dos críticos não os compreende e o público leitor mostra-se indiferente ou hostil frente aquela poética aristocrática, complicada, pretensiosa. Somente depois do triunfo modernista, alguns desses poetas seriam revalorizados.



Não se pense, contudo que a marginalidade simbolista implica numa mudança das relações de dependência entre os letrados brasileiros e os valores europeus. O exemplo dos parnasianos - e às vezes é difícil identificar diferenças poéticas entre ambos - os simbolistas transplantam uma cultura que pouco tem a ver com a realidade local.



Daí resulta uma poesia freqüentemente distanciada tanto do espaço social quanto do jeito íntimo de ser brasileiro. Um pastiche dos "padrões sublimes da civilização".



Outra vez estamos diante do velho sonho colonizado: reproduzir aqui os modelos recentes da arte européia. A grande exceção neste contexto parece ser a obra de Cruz e Sousa, embora outros poetas do período tenham deixado criações isoladas de relativo interesse e qualidade.



As primeiras experiências de acordo com os novos preceitos são realizadas por Medeiros e Albuquerque, a partir de 1890. Porém, os textos que verdadeiramente inauguram o Simbolismo pertencem a Cruz e Souza que, em 1893, lança duas obras renovadoras: Broquéis e Missal. A primeira compõe-se de poemas em versos e a segunda de poemas em prosa

AUTORES SIMBOLISTAS

CRUZ E SOUSA (1861 - 1898)

VIDA



João da Cruz e Souza nasceu em Desterro (hoje Florianópolis), filho de escravos libertos pelo marechal Guilherme de Souza, que adotou o menino negro e ofereceu-lhe a chance de estudar com os melhores professores de Santa Catarina. Foi seu mestre, inclusive, o sábio alemão Fritz Müller, correspondente de Darwin. Apesar da morte de seu protetor, conseguiu terminar o nível intermediário e, com pouco mais de dezesseis anos, tornou-se professor particular e militante da imprensa local. Aos vinte anos, seguiu com uma companhia teatral por todo o Brasil, na condição de "ponto". Durante estas viagens entregou-se à conferências abolicionistas. Em 1883, foi nomeado promotor público em Laguna, no sul da província, mas uma rebelião racista na pequena cidade, impediu-o de assumir o cargo, embora esta história seja contestada por algumas fontes.

                                                                  Primeira edição de
                                                                  Faróis, de Cruz e Sousa



Voltou a viajar e a cada regresso sentia a ampliação do preconceito de cor. Mudou-se então, definitivamente para o Rio de Janeiro. Lá se casaria com uma moça negra (Gavita) e conseguiria modesto emprego de arquivista na Central do Brasil, já no ano de 1893. Às inúmeras dificuldades financeiras somavam-se o desprezo dos intelectuais da época, que viam nele apenas um "negro pernóstico", o período de loucura mansa vivido pela esposa, durante seis meses, e a tuberculose que atacou toda a sua família: ele, a mulher e os quatro filhos. Numa carta ao amigo e protetor, Nestor Vítor, deixou registrado seu infortúnio:



"Há quinze dias tenho uma febre doida... Mas o pior, meu velho, é que estou numa indigência horrível, sem vintém para remédios, para leite, para nada! Minha mulher diz que sou um fantasma que anda pela casa!"



Este mesmo amigo providenciou uma viagem do poeta à região serrana de Minas Gerais, em busca de paliativo para a doença. Mal chegando lá, Cruz e Sousa piorou e faleceu na mais absoluta solidão. Três anos após - já tendo enterrado dois filhos - Gavina também desapareceria por causa da tuberculose. O terceiro filho morreria em seguida. O último, vitimado pela mesma moléstia, desapareceria em 1915. A família estava extinta numa terrível tragédia humana.

OBRAS PRINCIPAIS



Broquéis (1893) - Missal (1893) - Evocações (1899) - Faróis (1900) Últimos sonetos (1905)



A obra de Cruz e Sousa é a mais brasileira de um movimento que foi, entre nós, essencialmente europeu. Nela opera-se uma tentativa de síntese entre formas de expressão prestigiadas na Europa e o drama espiritual de um homem atormentado social e filosoficamente. O resultado passa, às vezes, por poemas obscuros e verborrágicos, mas, na maioria dos casos, a densidade lírica e dramática do "Cisne Negro" atinge um nível só comparável ao dos grandes simbolistas franceses. O primeiro aspecto que percebemos em sua poética é a linguagem renovadora.

A LINGUAGEM METAFÓRICA E MUSICAL


                                                                 Uma das pouquíssimas
                                                                 fotos de Cruz e Sousa.



Ainda que sua formação tenha sido dentro do Parnasianismo - e desta escola ele guarde o cultivo da perfeição e o gosto pela métrica e pelo soneto - Cruz e Sousa foge da objetividade lingüística e dos lugares-comuns verbais de seus antecessores. Nos seus poemas, abundam substantivos comuns com iniciais maiúsculas e palavras raras. A linguagem denotativa quase desaparece na quantidade de símbolos, aliterações*, sinestesias*, esquisitas harmonias sonoras.



Ao contrário do texto parnasiano, o simbolista exige do leitor um esforço de decifração, de "tradução" da realidade sugerida para a realidade concreta. A todo o momento, o poeta apela para a linguagem metafórica:



"O demônio sangrento da luxúria..."

"Punhais de frígidos sarcasmos..."

"Ó negra Monja triste, ó grande soberana." (A lua)

"As luas virgens dos teus seios brancos..."

"O chicote elétrico do vento..."



A musicalidade se dá através de aliterações. Sejam em v:



Vozes veladas, veludosas vozes,

volúpias dos violões, vozes veladas

vagam nos velhos vórtices* velozes

dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas*...



Sinestesias: correspondência entre as diversas sensações, sons, olhares e cheiros.

Aliterações: repetição de fonemas no início, meio ou fim das palavras.

Vórtices: redemoinho, turbilhão.

Vulcanizadas: ardentes, exaltadas.

SEJAM EM M



Mudas epilepsias, mudas, mudas,mudas epilepsias

Masturbações mentais, fundas, agudas negras nevrostenias

Os exemplos são infinitos. Em s: "Surdos, soturnos, subterrâneos desesperos..." Em f: "Finos frascos facetados" E assim por diante, sempre a "música antes de qualquer coisa." Vale a pena lembrar também que o escritor não ignorava a sinestesia, utilizando-a com frequência: "vozes luminosas" - "aromas mornos e amargos" - "claridade viscosa" - "vermelhos clarinantes", etc.



Da mesma forma, quando necessitado de novas palavras com sonoridade originais, ele não tinha vergonha de inventá-las: "purpurejamento - suinice - tentaculizar - maternizado, etc.

TEMAS BÁSICOS



No entanto, a poética de Cruz e Sousa vai além destes procedimentos estilísticos inovadores. A junção da linguagem estranha com três ou quatro temas recorrentes e profundos é que lhe garantiu o lugar privilegiado em nossa literatura. A rigor, os seus assuntos são limitados:



A obsessão pela cor branca

O erotismo e sua sublimação

O sofrimento da condição negra

A espiritualização
                                                           Manuscrito de Cruz e Sousa

A OBSESSÃO PELA COR BRANCA



Roger Bastide desvela nos primeiros livros de Cruz e Sousa uma imensa nostalgia de se tornar ariano. O poeta parece ocultar as suas origens numa louvação contínua da cor branca. O branco em seus diversos tons, o branco da neve, do luar, da neblina, da bruma, do cristal, do marfim, da espuma, da pérola, das luzes e dos brilhos. O crítico contou em Broquéis cento e sessenta e nove referências a este universo de brancuras.



O primeiro poema do livro, Antífona*, já é indicativo do que virá depois:



Ó Formas alvas, brancas, Formas claras

De luares, de neves, de neblinas!

Ó formas alvas, fluidas, cristalinas,

Incensos dos turíbulos* das aras*



A lua, "fantasma de brancuras vaporosas", surge a todo instante:



Clâmides* frescas de brancuras frias

Finíssimas dalmáticas* de neve

Vestem as longas árvores sombrias,

Surgindo a Lua nebulosa e leve...

Névoas e névoas frígidas ondulam

Alagam lácteos e fulgentes* rios

Que na enluarada refração tremulam

D'entre fosforescências, calafrios...



Nevrostenias: angústias, neuroses

Antífona: versículo recitado antes ou depois da leitura de um salmo.

Turíbulo: objeto para espargir incenso

Ara: altar

Clâmide: manto dos antigos gregos

Dalmática: túnica

Fulgente: brilhante

Também as mulheres que estimulam sexualmente o poeta, em sua maioria, são brancas:



Braços nervosos, brancas opulências

Brumais brancuras, fúlgidas brancuras

Alvuras castas, virginais alvuras,

Lactescências das raras lactescências.



Se existe uma vingança de Cruz e Souza contra o preconceito de cor, ela não se dá exatamente através de uma aproximação com seu mundo étnico. Ele buscou na aristocratização intelectual, no hermetismo*, na imitação do dernier cri parisiense e no desprezo pela vulgaridade, sua diferença em relação aos escritores brancos vinculados ao Parnasianismo. Como diz Roger Bastide, "criando uma arte de reticências e sutilezas", ele quis mostrar que o negro não era um materialista, preso à terra e ao prazer dos sentidos.



Daí também o platonismo* contínuo de sua poesia, na qual o universo concreto não passa de um reflexo sombrio de Essências e Idéias supra terrestres. Assim a poesia fica imaculada, limpa das impurezas da vida. E a obsessão pelo branco ganha uma dimensão filosófica, que poderia ser representada da seguinte maneira:



Mundo platônico > Mundo das Idéias e Formas Puras > Mundo alvo e nevoento



Este é o mundo ao que o poeta aspira: uma libertação, uma comunhão. Para tentar atingi-lo, destruirá a concepção parnasiana onde se formara: as coisas materiais se enevoarão, se diluirão. Os corpos femininos, no entanto, procurarão puxá-lo para a luxúria da vida terrena, atrapalhando a sua trajetória rumo às Essências.



Hermetismo: fechamento, sentido obscuro.

Platonismo: vem da filosofia de Platão, que afirma ser o nosso mundo uma cópia inferior de um mundo ideal.

EROTISMO E SUBLIMAÇÃO*



As mulheres surgem na obra de Cruz e Sousa como um símbolo de sensualidade. Mas ao contrário das figuras femininas de Olavo Bilac - descritas minuciosamente em sua graça corpórea, como esculturas belas e frias - as mulheres do catarinense aparecem, com freqüência, sob a forma de "cruéis e demoníacas serpentes" arrastando o poeta para convulsões, espasmos, anseios e desejos obscuros.

Estamos longe daqueles retratos parnasianos, emoldurados por um erotismo convencional.



Cruz e Sousa prefere mergulhar nas sensações despertadas pelas "carnes tépidas":



Carnais, sejam carnais tantos desejos,

Carnais, sejam carnais tantos anseios,

Palpitações e frêmitos* e enleios*,

Das harpas da emoção tantos arpejos*...

Estes "sentimentos carnais" exasperam o poeta em "febres intensas, ânsias mortais, angústias palpitantes" impelindo-o a necessidade de sublimar as "flamejantes atrações do gozo".



É necessário transportar estes espasmos e desejos para o reino sideral e assim desmaterializá-los:



Para as Estrelas de cristais gelados

as ânsias e os desejos vão subindo,

galgando azuis e siderais noivados

de nuvens brancas a amplidão vestindo.



Sublimação: Processo inconsciente de desviar a energia da libido para outras esferas ou atividades.

Frêmitos: vibrações, arrepios.

Enleios: laços, atrações.

Arpejos: execução rápida e sucessiva de notas musicais.

O SOFRIMENTO DA CONDIÇÃO NEGRA



Em Faróis e Evocações (poemas confessionais em prosa), Cruz e Sousa produzirá textos dolorosos e noturnos. A escuridão da noite - sempre associada à idéia de morte - substituirá o culto do branco e do erotismo. Estes dois livros correspondem à época da loucura de sua mulher, das maiores dificuldades financeiras, do preconceito de cor e do descaso dos intelectuais por sua obra. Como que lhe traduzindo a agonia interior, o estilo torna-se mais obscuro e tortuoso do que normalmente. O seu sentimento dominante é o de opressão, como se percebe em O emparedado:



Se caminhares para a direita, baterás e esbarrarás ansioso, aflito, numa parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira. Se caminhares para frente, ainda nova parede, feita de Despeito e Impotências, tremenda, de granito, broncamente se elevará do alto! Se caminhares, enfim, para trás, há ainda uma derradeira parede, fechando tudo, fechando tudo - horrível! - parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará n'um frio espasmo de terror absoluto. (...) E as estranhas paredes hão de subir - longas, negras, terríficas! Hão de subir, subir, subir mudas, silenciosas, até as Estrelas, deixando-te para sempre perdidamente alucinado e emparedado dentro do teu Sonho...



O sofrimento da condição negra não se transforma em protesto racial, e sim em isolamento, solidão, aristocratização amarga.



O Simbolismo é para ele uma forma de revolta contra a sociedade e contra suas próprias origens africanas, pelas quais sente, ao mesmo tempo, orgulho e pesar. O "emparedado" vinga-se das "paredes" que o asfixiam com a sua criatividade poética. É uma revolta estética, raramente quebrada pela denúncia social, a não ser em textos como Litania dos pobres:



Os miseráveis, os rotos

São as flores dos esgotos

São espectros implacáveis

Os rotos, os miseráveis

São prantos negros de furnas

Caladas, mudas, soturnas (...)

Faróis à noite apagados

Por ventos desesperados(...)

Bandeiras rotas, sem nome,

Das barricadas da fome.

Bandeiras estraçalhadas

Das sangrentas barricadas.

A ESPIRITUALIZAÇÃO

                                                   Como neste quadro de Magritte, a noite
exerceu grande fascínio sobre Cruz
e Sousa, representando ora o território
da sensualidade, ora o da dissolvência
e da morte



A tuberculose veio culminar o processo trágico de Cruz e Sousa e sua família. Os tormentos atingem agora a plenitude, e a morte paira sobre tudo com sua túnica negra. Em Últimos sonetos, a linguagem parece se despir dos excessos anteriores e chega à perfeição. O poeta está diante do grande abismo e procura decifrar seu formidável mistério. Já não se trata apenas da angústia de um homem proscrito por causa de sua raça. O sofrimento, de fato, é inerente à condição humana. E, diante do fim, o artista experimentará sensações diversas, desde o desejo de dissolução na "Noite redentora" até a expectativa de ressurreição em outra vida



Seu processo de espiritualização é difusamente católico: dá a impressão de que acredita na sobrevivência dos mortos, que estes serão restituídos a sua "verdadeira pátria", isto é, a pátria das almas e das essências platônicas, onde reina o "Transcendente", o "Absoluto" e onde, por fim, encontrará a paz:



Sorrindo a céus que vão se desvendando,

A mundos que vão se multiplicando,

A portas de ouro que vão se abrindo!



A religiosidade filosófica permite-lhe - apesar de todos os dramas de sua vida - declarar-se um vencedor, como verificamos no seu derradeiro poema, o antológico Sorriso interior:



O ser que é ser e que jamais vacila

Nas guerras imortais entra sem susto,

Leva consigo este brasão augusto

Do grande amor, da grande fé tranqüila.

Os abismos carnais da triste argila

Ele os vence sem ânsia e sem custo...

Fica sereno, num sorriso justo,

Enquanto tudo em derredor oscila.

Ondas interiores de grandeza

Dão-lhe esta glória em frente à Natureza,

Esse esplendor, todo esse largo eflúvio*.

O ser que é ser transforma tudo em flores...

E para ironizar as próprias dores

Canta por entre as águas do Dilúvio!

Mesmo que, em sua fé platônica-cristã, o poeta cante a esperança de uma outra vida, momentos de desespero e tristeza continuam aflorando em sua obra final.



O soneto Vida obscura, que alguns julgam dedicado a sua própria esposa, e que outros vêem como um auto-retrato do artista, é a mais conhecida de suas criações:



"Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,

ó ser humilde entre os humildes seres.

Embriagado, tonto dos prazeres,

o mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro

a vida presa a trágicos deveres

e chegaste ao saber de altos saberes,

tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,

magoado, oculto e aterrador, secreto,

que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos

sei que cruz infernal prendeu-te os braços

e o teu suspiro como foi profundo!

MANUEL BANDEIRA SINTETIZOU BEM A PODEROSA POÉTICA DE CRUZ E SOUSA:

Dos sofrimentos físicos e morais de sua vida, do seu penoso esforço de ascensão na escala social, do seu sonho místico de uma arte que seria uma 'eucarística espiritualização', do fundo indômito de seu ser de 'emparedado' dentro da raça desprezada, ele tirou os acentos patéticos que lhe garantem a perpetuidade de sua obra na literatura brasileira. Não há gritos mais dilacerantes, suspiros mais profundos do que os seus.

ALPHONSUS DE GUIMARAENS (1870-1921)


                                                        Foto esmaecida do poeta mineiro

VIDA


Nasceu em Ouro Preto, filho de um comerciante português e de uma sobrinha do escritor romântico, Bernardo Guimarães. Fez seus estudos preliminares na cidade natal e depois cursou Direito em São Paulo. Nutre intensa paixão platônica pela filha do autor de A escrava Isaura, Constança, que morreria de tuberculose antes dos dezoito anos e, para quem escreveria muitos de seus versos. Retornou para Minas Gerais, exercendo a função de juiz em Conceição do Serro e, mais tarde, em Mariana. Casou-se com uma jovem de dezessete anos, Zenaide, com quem teve quatorze filhos e com quem encaramujou-se na vida privada, ao ponto de morrer praticamente na obscuridade, às vésperas da Semana de Arte Moderna.

OBRAS PRINCIPAIS



Centenário das dores de Nossa Senhora (1899), Dona mística (1889), Câmara ardente (1899), Kyriale (1902)

Mineiro, passado quase toda a sua vida nas cidades barrocas e decadentes da região aurífera, Alphonsus de Guimarães sofreu as influências ambientais dessas cidades, povoadas apenas, no dizer de Roger Bastide, "de sons e sinos, de velhas deslizando pelos becos silenciosos, de vultos que se escondem à sombra das muralhas. Cidades de brumas, conhecendo as mesmas existências cinzentas e os mesmos fantasmas noturnos: donzelas solitárias, vestidas de luar." Sua poesia gira em torno de pouco assunto:

A MORTE DA AMADA



É um tema dominante em sua poesia: a morte da noiva amada, a doce Constança, desaparecida na flor da mocidade. De certa forma, não conseguirá mais esquecê-la e, assim, os seus poemas de amor sempre se vincularão à idéias fúnebres. Amor e morte é uma velha fórmula romântica, mas Alphonsus a tratará de maneira diferente, fugindo do patético e alcançando um tom elegíaco*, onde predominam a melancolia e a musicalidade.



Nem o casamento, nem o passar do tempo ajudarão o poeta a atenuar esta tristeza. Em vários momentos, a dor parece mais uma convenção poética do que propriamente um sentimento real.



No entanto, um soneto como Hão de chorar por ela os cinamomos guarda forte carga de emoção:



Hão de chorar por ela os cinamomos

Murchando as flores ao tombar do dia

Dos laranjais hão de cair os pomos

Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão: - "Ai, nada somos,

Pois ela se morreu silente* e fria..."

E pondo os olhos nela como pomos,

Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua que lhe foi mãe carinhosa

Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la

Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...

E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,

Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?"



Silente: silencioso, secreto.



A lembrança do sofrimento nunca o abandona, como se percebe em Ismália, espécie de balada, onde a loucura, a solidão e a morte se interpenetram:


                                                     Manuscrito de Alphonsus de Guimaraens



Quando Ismália enlouqueceu,

Pôs-se na torre a sonhar...

Viu uma lua no céu,

Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu

Banhou-se toda em luar...

Queria subir ao céu,

Queria descer ao mar...

E, no desvario seu

Na torre pôs-se a cantar...

Estava perto do céu,

Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu

As asas para voar...

Queria a lua do céu,

Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par...

Sua alma subiu ao céu,

Seu corpo desceu ao mar

A RELIGIOSIDADE LITÚRGICA


                                              Alphonsus de Guimaraens, desenho de Calisto



O desaparecimento precoce da noiva associado ao clima místico das cidades barrocas induzem Alphonsus de Guimaraens à religiosidade. Ao inverso de Cruz e Sousa cuja espiritualização é angustiada e filosófica, a do poeta mineiro não tem "arroubos ou iluminações fulgurantes", como diz Andrade Muricy.



Trata-se de uma religiosidade emotiva, feita de preces e crenças simples. Nada de abstrações metafísicas. Nada de indagações exasperadas. Seu catolicismo está mais próximo das fontes tradicionais da liturgia. Houve quem lhe apontasse um misticismo exterior e superficial, mas é forçoso reconhecer beleza na série de orações que dirige à Virgem Maria:



Doce consolação dos infelizes

Primeiro e último amparo de quem chora,

Oh! Dá-me alívio, dá-me cicatrizes

Para estas chagas que te mostro agora.



Aliás, a deificação de Nossa Senhora parece corresponder à sublimação do amor pela noiva morta. O arrebatamento religioso pela Mãe de Deus indicaria a troca de uma paixão concreta por uma devoção católica. Massaud Moisés fala em "platonismo místico" porque, ao encarnar esta paixão na figura da Virgem, "o poeta transcendentaliza e essencializa a mulher amada, conferindo-lhe o atributo de plenitude espiritual válido no contexto católico e de acordo com a sua sensibilidade cristã."



Ilustrativo das tendências simbólicas, místicas e musicais de Alphonsus é o seu poema



A catedral:



Entre brumas ao longe surge a aurora.

O hialino* orvalho aos poucos se evapora,

Agoniza o arrebol*.

A catedral ebúrnea* do meu sonho

Aparece na paz do céu risonho

Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos*:

Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus! (...)

Por entre lírios e lilases desce

A tarde esquiva: amargurada prece

Põe-se a lua a rezar.

A catedral ebúrnea do meu sonho

Aparece na paz do céu tristonho

Toda branca de luar.

E o sino dobra em lúgubres responsos:

Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!

O céu é todo trevas: o vento uiva.

Do relâmpago a cabeleira ruiva

Vem açoitar o rosto meu.

E a catedral ebúrnea do meu sonho

Afunda-se no caos do céu medonho

Como um astro que já morreu.

E o sino geme em lúgubres responsos:

Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!



Hialino: transparente

Arrebol: vermelhidão do nascer ou do pôr do sol.

Ebúrnea: de marfim

Responsos: versículos rezados ou cantados.

OUTROS SIMBOLISTAS



No Rio Grande do Sul, o principal simbolista foi Eduardo Guimarães (A divina quimera, 1916). No Paraná, destacou-se Emiliano Perneta (Ilusão,1911). Na Bahia, surgiu a poética estranha de Pedro Kilkerry. Verdade que estes escritores ficam em segundo plano, diante da figura esplêndida de Cruz e Sousa, mas contribuem para a expansão de uma onda simbolista. Uma onda quase invisível, dado o domínio parnasiano e a posterior vitória modernista, e que só seria percebida nos livros iniciais de Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles e Mário Quintana, todos com maior ou menor influência do Simbolismo.

O CASO PEDRO KILKERRY (1885-1917)

VIDA



Nasceu em Santo Antônio (Bahia). Estudou em Salvador, onde se formou em Direito. Ao morrer, com apenas trinta e dois anos, não tinha ainda livro publicado, fato que persiste até hoje.

Redescoberto pela vanguarda concretista, Pedro Kilkerry é mais um desses casos estranhos que povoam a história literária. Criador isolado de uma poética fragmentária, feita de aliterações, onomatopéias e neologismos, levou a extremos as possibilidades de expressão abertas pelos simbolistas, aproximando-se do experimentalismo de alguns poetas modernistas.



Veja-se "Horas ígneas":





"Eu sorvo o haxixe do estio*

E evolve um cheiro, bestial

Ao solo quente, como o cio

De um chacal.

Distensas, rebrilham sobre

Um verdor, flamâncias* de asa...

Circula um vapor de cobre

Os montes - de cinza e brasa."**

Em vários momentos, entretanto, esta poesia inovadora descai para a prolixidade e para o vocabulário pedante.

Estio: verão

Flamâncias: brilhos



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